Facilitismo e desresponsabilização<br>das «elites» cá do burgo
Há algum tempo, passando pelo escaparate de um dos novos jornais grátis, li um título que dizia ter a queda de uma bancada provocado várias dezenas de feridos num cidade portuguesa do Interior - para o efeito não interessa que cidade era, até porque, como estas coisas são, podiam ser uma outra entre muitas outras. Curioso, eu, desta vez não resisti à tentação de pegar num exemplar do grátis periódico, em particular - penso eu - por se tratar de uma cidade de que gosto e conheço razoavelmente. Sentei-me, portanto, a tomar a bica da manhã e, «gastando» mais tempo do que habitual no ritual correspondente, lá fui lendo o artigo que vinha pespegado numa página interior. A notícia talvez já estivesse um pouco requentada, já que o incidente tinha ocorrido na antevéspera... pois é, as notícias levam que tempos a vir do interior do País para os jornais nacionais, mas mesmo assim é melhor que nada!
A primeira coisa a realçar é que as tais dezenas de feridos eram «apenas» «feridos ligeiros» (sic) e que, depois de assistidos no Hospital Distrital mais próximo, acabaram «por ter alta durante a madrugada». Menos mal.
O artigo cita, como é normal, de entre as autoridades locais, o Presidente da Câmara Municipal (CM), bem como o Presidente da entidade organizadora dos festejos (EO) que incluíam a tal bancada - com capacidade para centenas de espectadores, já era uma senhora bancada. E diga-se ainda que o Presidente da EO também é Vereador da mesma CM.
Mesmo admitindo que aquilo que o artigo diz é uma parte do total - é quase sempre assim, as notícias são truncadas à vontade do freguês mandante -, vale a pena, para depois ir um pouco ao moral da história, determo-nos algo sobre as declarações daqueles responsáveis.
Assim, do texto depreende-se que o Presidente da CM disse não ter havido vistoria técnica por parte da autarquia, portanto a obra não estava licenciada. Pelo seu lado o Presidente da EO, e também vereador da CM, confirmou as causas de deficiente instalação avançadas pelo perito da seguradora e afirmou que à empresa, à qual tinha sido comprado o evento com «chave na mão», seriam imputadas todas as responsabilidades, presumindo-se aqui os custos,x indemnizações, etc.
«Porreiro, pá», a CM, para além dos custos do «chave na mão», não vai pagar mais nada. E mais, a empresa responsável pelo acidente - que poderia ter tido consequência bem mais graves, «Não, não podia, que exagero» - até se prontificou a ressarcir, vejam lá, os espectadores do «country rodeo», com a possibilidade de o realizar noutro dia, para «compensar» o público. Eu é que tão depressa não vou sentar-me em bancadas de festas «populares» destas, porque ainda posso partir a bacia, ou «tocar» a minha coluna, sei lá. Mas eu sou um medroso!
Fora de brincadeiras, há aqui coisas que chocam, das quais a primeira é a de confinarem-se as más consequências, os ferimentos, a questões de seguros e de custos, mais o ressarcimento, do público, incluindo dos feridos, para poderem vir a assistir mais tarde ao tal «country rodeo» - parece não haver responsabilidades políticas de quem deveria autorizar obras sem vistorias em eventos que não estão da sua responsabilidade. Só tenho desejo que estes autarcas metam a mão na consciência e se arrepelem das irresponsabilidades. Não se deve dizer que as coisas não deviam acontecer, tem que se evitar que aconteçam. E os autarcas do resto Pais podem é aprender com este «azar».
A outra coisa da ordem de moral da história a referir é uma pecha espalhada da falta de rigor, do deixar andar, do não há-de ser nada, do não levar a sério, de modo científico, o que se tem que fazer - são manias, não é preciso, estamos com pressa, temos de ser competitivos, o que é isso de ter que efectuar cuidadosamente a montagem, são chinesices. As normas e o conhecimento técnico não são necessários para nada. É claro que isto das «chaves na mão», sem mais, sem regras, é um convite à desresponsabilização. É a empresa e o seu negócio «quem mais ordena». Para quê por os técnicos da CM a vistoriar?
Para que são eles precisos? Para nada, isto não são pontes nem aeroportos, qualquer um faz os projectos, nem se percebe como ainda é obrigatório que os engenheiros os assinem - é só para ganharem mais umas coroas. Então o Estado - administração central mais a administração central - gastam é demais com esta gente, em particular com os engenheiros que nem podem assinar projectos na sua área de autarquia, etc.
A primeira coisa a realçar é que as tais dezenas de feridos eram «apenas» «feridos ligeiros» (sic) e que, depois de assistidos no Hospital Distrital mais próximo, acabaram «por ter alta durante a madrugada». Menos mal.
O artigo cita, como é normal, de entre as autoridades locais, o Presidente da Câmara Municipal (CM), bem como o Presidente da entidade organizadora dos festejos (EO) que incluíam a tal bancada - com capacidade para centenas de espectadores, já era uma senhora bancada. E diga-se ainda que o Presidente da EO também é Vereador da mesma CM.
Mesmo admitindo que aquilo que o artigo diz é uma parte do total - é quase sempre assim, as notícias são truncadas à vontade do freguês mandante -, vale a pena, para depois ir um pouco ao moral da história, determo-nos algo sobre as declarações daqueles responsáveis.
Assim, do texto depreende-se que o Presidente da CM disse não ter havido vistoria técnica por parte da autarquia, portanto a obra não estava licenciada. Pelo seu lado o Presidente da EO, e também vereador da CM, confirmou as causas de deficiente instalação avançadas pelo perito da seguradora e afirmou que à empresa, à qual tinha sido comprado o evento com «chave na mão», seriam imputadas todas as responsabilidades, presumindo-se aqui os custos,x indemnizações, etc.
«Porreiro, pá», a CM, para além dos custos do «chave na mão», não vai pagar mais nada. E mais, a empresa responsável pelo acidente - que poderia ter tido consequência bem mais graves, «Não, não podia, que exagero» - até se prontificou a ressarcir, vejam lá, os espectadores do «country rodeo», com a possibilidade de o realizar noutro dia, para «compensar» o público. Eu é que tão depressa não vou sentar-me em bancadas de festas «populares» destas, porque ainda posso partir a bacia, ou «tocar» a minha coluna, sei lá. Mas eu sou um medroso!
Fora de brincadeiras, há aqui coisas que chocam, das quais a primeira é a de confinarem-se as más consequências, os ferimentos, a questões de seguros e de custos, mais o ressarcimento, do público, incluindo dos feridos, para poderem vir a assistir mais tarde ao tal «country rodeo» - parece não haver responsabilidades políticas de quem deveria autorizar obras sem vistorias em eventos que não estão da sua responsabilidade. Só tenho desejo que estes autarcas metam a mão na consciência e se arrepelem das irresponsabilidades. Não se deve dizer que as coisas não deviam acontecer, tem que se evitar que aconteçam. E os autarcas do resto Pais podem é aprender com este «azar».
A outra coisa da ordem de moral da história a referir é uma pecha espalhada da falta de rigor, do deixar andar, do não há-de ser nada, do não levar a sério, de modo científico, o que se tem que fazer - são manias, não é preciso, estamos com pressa, temos de ser competitivos, o que é isso de ter que efectuar cuidadosamente a montagem, são chinesices. As normas e o conhecimento técnico não são necessários para nada. É claro que isto das «chaves na mão», sem mais, sem regras, é um convite à desresponsabilização. É a empresa e o seu negócio «quem mais ordena». Para quê por os técnicos da CM a vistoriar?
Para que são eles precisos? Para nada, isto não são pontes nem aeroportos, qualquer um faz os projectos, nem se percebe como ainda é obrigatório que os engenheiros os assinem - é só para ganharem mais umas coroas. Então o Estado - administração central mais a administração central - gastam é demais com esta gente, em particular com os engenheiros que nem podem assinar projectos na sua área de autarquia, etc.